Nylton Gomes Batista
Conforme dito em texto recente, a humanidade deu um salto gigantesco, em pouco mais de cem anos, alguns avanços a superar, em muito, as expectativas. Já conta até com uma “inteligência” extra, para auxiliá-la em múltiplas atividades, e esboça intenção de emigrar para outros corpos celestes.
Contudo, boa parte dessa mesma espécie, avançada em ideias, desenvolvida em ciência e tecnologia l vê o número13 com terror, arrepia-se toda ao ver um gato preto atravessar-lhe o caminho, ou acredita, piamente, que ganhará loteria ou será promovido no emprego, ao encontrar um trevo de quatro pétalas. Tais pessoas vivem presas ou, pior, são escravas de crenças antigas e sem fundamentos, passadas de geração em geração, por séculos, talvez milênios: superstições.
Superstições são crenças que associam eventos ou objetos a consequências danosas, ou alvissareiras, a depender da natureza da fonte. O número 13, por exemplo, é fonte do azar; considerado fatídico é, às vezes, evitado a ponto de muitos edifícios saltarem o 13º andar, aviões omitirem a fileira 13 e hotéis evitarem quartos com esse número. Curiosamente, em outras culturas, como a judaica, o 13 é símbolo de sorte e bênção. Segundo a tradição, o 13 pode ser ainda mais perigoso, quando associado à sexta-feira, dia da semana considerado não muito bento, em outra superstição; pior ainda, quando a sexta-feira 13 é no mês de agosto, mês a conter a maior carga negativa, no ano, segundo “entendidos” e defensores dessas crenças. Para combater presumidos efeitos maléficos da sexta-feira e suas combinações com o número 13, supersticiosos valem-se de outra superstição: um raminho de arruada atravessado sobre o lóbulo da orelha. Há cidades, no Brasil, cujos condutores de coletivos, às sextas-feiras, são vistos com arruda na orelha. Quem tem, no jardim ou no fundo do quintal, uma plantação de arruda, pode faturar uma boa grana. Segundo alguns, a má fama do 13 teria surgido, na Última Ceia,
compartilhada por Jesus com os 12 apóstolos; o 13º do grupo era o traidor Judas. Quanto à má fama da sexta-feira, teria tido origem no fato de, numa sexta-feira, ter culminado o sofrimento de Jesus com a crucificação.
O gato doméstico, simpático e “folgado” felino, indispensável quando se quer um ambiente livre de ratos, é vítima de inúmeros preconceitos, sendo-lhe atribuída série de desvantagens a recomendar tê-lo afastado do convívio entre humanos. No auge da pandeia do COVID-19, hospitais lotados, coveiras a trabalhar sem descanso, ouvi de pessoa, formada e bem-informada, que o gato seria animal perigoso porque transmite doenças. Eu contra-ataquei: – seria essa atual doença pandêmica transmitida por gatos? O preconceito é contra os gatos em gera, mas o gato, sendo preto, acumula fama como bicho do azar! Supersticiosos evitam tê-lo a atravessar à sua frente.
Na antiguidade, especialmente no Egito, o gato preto era reverenciado como sagrado; fato comprovado por uma deusa, do panteão egípcio, que era representada com cabeça de gato. No entanto, mais tarde com a ascensão do cristianismo, os gatos, especialmente os pretos, passaram a ser associados à bruxaria e ao diabo. Durante a Inquisição, foram perseguidos e mortos junto com mulheres acusadas de feitiçaria. Na ocorrência de coincidências, supersticiosos têm a crença reforçada, enquanto não supersticiosos, nem sempre percebem.
Com menores índices de incidência, existem outras superstições, como a quebra de espelho, por exemplo; pessoas ficam desesperadas com essa quebra, pois acreditam que ela pode trazer sete anos de aza. Ao contrário, o trevo pode trazer sorte, quando encontrado no formato quatro pétalas. Se verdadeiro esse poder atribuído ao trevo, eu seria um grande sortudo. Na infância, ao voltar da escola, alguns escolares (eu incluso) divertiam-se na busca de trevo quatro folhas, em determinado canto de rua. Enquanto meus companheiros nada encontravam, eu encontrava, pelo menos, três! Bastava uma corrida d’olhos sobre o aglomerado daquela planta, e, lá estavam eles. É uma questão de saber olhar! Já vi muita ferradura fixada atrás da porta de casa. Dizia-se que ela protegia contra mal; e agora que, praticamente, ferradura não mais é encontrada, o que protege a case e seus residentes? Enquanto se acreditava ter o mal banido pela ferradura, vespas, marimbondos e outros peçonhentos, verdadeiros causadores do mal, eram criados e alimentados, na mente do indivíduo. Nem o bem e nem mal se encontram fora, nas coisas que nos rodeiam, porém, a depender das atitudes, no interior de cada um de nós!