Imagem: Guia de Rodas / Por: Marcos Delamore
Durante o show da banda Capital Inicial em Ouro Preto, que aconteceu no dia 07 de julho, na Praça da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), uma família foi alvo de capacitismo e violência física e verbal na área destinada para Pessoas Com Deficiência (PCD). O episódio atrapalhou a experiência e tirou todo brilho de uma noite que seria mágica e inesquecível para cada uma daquelas pessoas. Autoridades municipais realizaram posicionamentos oficiais sobre o caso.
No dia seguinte, a engenheira ambiental, Daianna Lana, compartilhou nas redes sociais sua experiência como mulher autista e portadora de Transtorno de Ansiedade Generalizada no evento. O relato veio a público como uma forma de alerta e de repúdio aos atos de discriminação. “Quando começaram os gritos, as provocações, os xingamentos, eu peguei meu crachá desesperada, tentei mostrar meu documento, tentei convencer aquelas pessoas de que eu merecia estar ali. Mas não adiantou. As pessoas atrás da área PCD me chamaram de mentirosa, oportunista, folgada”, contou Daianna.
O Cordão Girassol é um adereço que simboliza a identificação de pessoas com deficiências ocultas e que não são facilmente perceptíveis no cotidiano, promovendo inclusão, receber atendimento prioritário e suporte adicional em locais públicos ou privados, e ajuda a evitar situações constrangedoras.

Daianna ainda mencionou que as cenas de hostilidade foram vividas por ela na presença de sua esposa, sua filha de 7 anos, seu cunhado e de sua irmã. Atos de discriminação e cadeiras sendo empurradas na direção da engenheira fizeram com que um momento de alegria se tornasse trauma. A equipe organizadora do evento, de prontidão, atuou para acolher a vítima e sua família, e pelo bem-estar deles, alocou os familiares em um espaço à frente do palco. O cantor e vocalista do Capital Inicial, Dinho Ouro Preto, interrompeu o show para intervir em favor de Daianna.
“E, enquanto saíamos, o público aplaudia. Sim, eles aplaudiram a nossa retirada. Como se tivessem vencido”, declarou a vítima. Luanna Lana, irmã de Daianna, comentou a situação e reconheceu o papel dos colaboradores do evento em auxiliá-las. “Entendemos também que foi uma forma de carinho da prefeitura. Sabemos que foi feito tudo que puderam naquele momento, porque ainda estamos despreparados para essas situações, inclusive um agradecimento especial para o Felipe, que conversou com minha irmã e a acalmou”, afirmou.
‘Ver Capital Inicial, com minha irmã, era sobre esperança, vida e irmandade’
Para Daianna, o show do Capital Inicial, que faz parte das celebrações de aniversário da cidade histórica de Ouro Preto, seria um momento de alegria e de aproveitar com a sua irmã, uma vez que elas têm uma história com a banda. “O plano era simples: curtir a noite, ver uma banda que tem história comigo e com minha irmã, e tentar encontrar um respiro no meio do caos. Ver Capital Inicial com a minha irmã era mais que entretenimento. Era cuidado. Era simbólico. Era resistência.”, detalhou.
A engenheira anunciou que tomará as medidas cabíveis e destacou os artigos infringidos pelos agressores. Art. 88 da Lei Brasileira de Inclusão (Lei nº 13.146/2015) – Discriminação contra PCD; Art. 140, §3º do Código Penal – Injúria qualificada por capacitismo; Art. 8º da Lei Brasileira de Inclusão – Violação dos direitos à convivência, segurança e dignidade;
Art. 25 e 28 da Lei Brasileira de Inclusão – Violação do direito a acompanhante.
Posicionamento de autoridades municipais
A vereadora Lilian França (PP), atuante da pauta e defensora da causa das Pessoas Com Deficiência (PCD), expressou indignação e repúdio contra aos atos de violência verbal, discriminação e capacitismo sofridos por Daianna e seus familiares. “O relato corajoso de Daianna expõe uma cena inaceitável de exclusão justamente no espaço reservado às pessoas com deficiência — um direito garantido por lei!”, enfatizou.
A parlamentar expressou solidariedade e a busca por uma Ouro Preto mais justa e inclusiva, destacando que capacitismo é crime e que seguirá lutando para que a lei seja cumprida. “Toda minha solidariedade à Daianna e sua família. Coloco meu mandato à disposição para acompanhar de perto, cobrar respostas e lutar para que episódios assim não se repitam”, declarou.
O Secretário Municipal de Saúde, Leandro Moreira, comentou a publicação de Daianna prestando apoio e suporte a ela e sua família. Também usou o espaço para esclarecer que um dos agressores não é motorista do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU), conforme foi propagado na cidade, mas sim um prestador de serviços da Prefeitura Municipal de Ouro Preto.
“Deixo meu REPÚDIO em relação ao ocorrido!! LAMENTÁVEL que um profissional de saúde não consegue respeitar uma pessoa! Independente de ser deficiente ou não!!! Respeito acima de tudo. DEFICIÊNCIA OCULTA EXISTE E PRECISA DE RESPEITO!! Daianna conte comigo para o que precisar! Não se cale e não deixe seu direito ser lesado!!! (só pra deixar claro: o agressor não é um profissional do SAMU)”, manifestou o secretário.